A OBRA

Autores: Rogério Ribeiro
Inauguração: 1997
Materiais: Azulejo
Dimensões: 24m x 6m
MESTRE ANDARILHO/PEREGRINAÇÃO
O painel de azulejos foi realizado na tradição do azulejo azul e branco português, pontuado por intervenções de uma gama de cores ocres e rosa, que realça elementos compositivos e confere ritmo à sequência. Os azulejos foram produzidos na Fábrica Viúva Lamego entre fevereiro e julho de 1997. É de salientar a colaboração entre diferentes áreas disciplinares: pintura, cerâmica e arquitetura, de todo o conjunto.
Aspetos da fase de preparação e realização do trabalho estão documentados na publicação de 1998 coordenada por Rogério Ribeiro, Mestre andarilho: painel de azulejo em homenagem à peregrinação de Fernão Mendes Pinto, que pode ser consultada no centro de documentação da Casa da Cerca.
A leitura deste painel de azulejos é feita da direita para a esquerda, acompanhando assim o movimento de quem entra no Fórum. A composição faz-se em oito panos contínuos (secções verticais), cujos títulos são: Partida; Caminho; Desesperança; Peregrinar; Embaixadas; Festa; Máquina do Mundo; Esperança Ainda. Cada um dos panos encontra-se, por sua vez, repartido livre e irregularmente em três ou mais cenas.
A Partida surge em atmosferas ambíguas e insubstanciais, num ambiente poético onde se pontuam uma casa, o rio e linhas fumegantes, evocativo de um mundo interior, da sensação de abandonar para um lugar novo. o Caminho é percorrido com sofrimento, no meio de trabalhos e perigos, onde a esperança e iniciativa anteriores se convertem em derrota. Em Desesperança sobressai a tortura e a dor em imagens de corpos desnudados, reduzidos à condição de condenados, aludindo ao muitos dos companheiros de viagem contados por Pinto, que não sobreviveram. Peregrinar fragmenta-se em seis cenas, alusivas a diversos episódios que mostram a submissão de uns homens a outros. As Embaixadas reúnem, em cerimónia oficial, diplomatas, bichos, máscaras, panejamentos e oferendas, com personagens que anunciam já a Festa. Aqui há mascarados e bailarinos sobre os quais cai uma chuva de flores. No painel final, localizado já no nártex de acesso ao Fórum, dá-se o encontro entre o pintor e o escritor: o segundo narra as suas viagens, enquanto o primeiro escuta, atento, de pincel na mão, tendo como pano de fundo várias cenas referentes a histórias e figuras dos relatos. Nas duas secções de cima, a Máquina do Mundo é fragmentada em dezasseis pequenas zonas recheadas de motivos; sendo de novo o céu do rio que cobre o regresso.
Não sendo um painel ilustrativo da obra de Pinto, trata-se de uma interpretação do artista da amálgama de conto e testemunho da obra literária à qual se pretende fazer homenagem.
Iconograficamente, observam-se evocações múltiplas: de partida, viagem, sofrimento, sonho e ilusão, força e fraqueza humanas, medos e coragens, submissão e revolta, desmotivação e esperança, vida e morte, solenidade, festa. Cada momento suscita tipos de vibração emocional.
Assim, apesar de confinamento a um tema central, a visão é prismática: as cenas autonomizam-se e notam-se alternâncias tonais. Isto contribui para um sentido descritivo abrangente que impele à descoberta visual.
Em termos formais, as figuras são traçadas sem pretensiosismo técnico por meio de expressivos e harmoniosos contornos azuis, desenho que remete para o imaginário poético da própria viagem. A disposição e organização dos elementos no espaço pictórico confere um ritmo pulsante, muito musical, que sublinha o onirismo de toda a cena.
Um olhar pelo concelho chama a atenção para outras duas obras em homenagem a Fernão Mendes Pinto e à Peregrinação. Uma é a estátua Fernão Mendes Pinto, da autoria de António Duarte; outra é o mural Evocação de Fernão Mendes Pinto, de Francisco Bronze e Jorge Pé-Curto. São ambas no Pragal, onde morou e escreveu nos últimos anos da sua vida.







